Universidade Federal do Ceará
Programa de Pós-Graduação em Linguística

LINGUÍSTICA (22001018024P9)

19/02/2018

PESQUISA

EM ANDAMENTO

O caráter onipresente da repetição enquanto fenômeno da linguagem faz com que seu estudo seja ao mesmo tempo necessário e multifacetado. Em nossa tese (LINDENBERG LEMOS, 2015), concentramo-nos nas repetições opcionais, ou não necessárias, e que, portanto, parecem trazer um acréscimo de sentido; em especial, agem sobre o fluxo de entradas e saídas do campo de presença e, assim, no ritmo do conteúdo. Propomos dar continuidade aos estudos da repetição nos textos e nas práticas, presumindo sempre seu caráter estruturante e significativo. Observamos nas condições textuais do fenômeno diferentes graus de generalidade. A identificação parece ser a condição mínima – e portanto mais geral – do reconhecimento de uma repetição. A saliência divide objetos entre aqueles que são pertinentes para o estudo da repetição enquanto organizadora do fluxo textual e aqueles que não o são, mas não exclui semióticas ditas “do espaço”. A linearidade, por outro lado, é inconstante: está por vezes presente em objetos estáticos e em outras, não; o que a torna um critério frágil para a análise da repetição nesse tipo de texto. A pesquisa proposta aqui aborda, assim, um aspecto da separação difícil entre as artes do tempo e as artes do espaço. De todo modo, dois aspectos continuam pertinentes à pesquisa: (1) a repetição desempenha um papel estruturante e saliente em objetos estáticos (COLAS-BLAISE, 2016), bem como em séries de textos verbais e não verbais, organizados espacial ou temporalmente, e (2) há um ritmo que se depreende de objetos estáticos (BEYAERT-GESLIN, 2010; ZILBERBERG, 2009), assim como é possível identificar a construção de expectativa na repetição não linear. Temos como objetivo geral do projeto, o de definir o papel estruturante da repetição em semiótica e sua contribuição na definição de séries, conjuntos e textos. Mais especificamente, buscamos refletir acerca do papel da repetição em semiótica não lineares; refletir sobre textos lineares fragmentários e em formato de hipertexto (i.e. com a ordem linear problematizada); discutir a relação entre os textos no tempo; discutir a relação entre os textos no espaço; discutir os limites do texto em semiótica; e desenvolver ferramentas para definir textos, séries e conjuntos. A partir dos pressupostos e objetivos apresentados acima, hipotetizamos que a repetição desempenha um papel estruturante do conteúdo de objetos organizados espacialmente e nas práticas discursivas seriais em geral. Nossa pesquisa se constituirá, assim, em demonstrar essa relação e estabelecer as condições semióticas desse fenômeno. Ao extrapolar o escopo de ação estruturante da repetição para além dos limites de um objeto singular e, com isso, estabelecer laços coesivos e rítmicos que reúnem objetos em série ou em um conjunto, coloca-se também em questão os limites do que deve ser considerado um texto em semiótica: teriam os textos um limite material ou tão somente teórico? Uma série, um conjunto são um texto ou vários?